Aconteceu no último dia 21 de outubro o 8º Encontro com Investidores da Fundação Gol de Letra. O evento tem a proposta de sempre debater um tema de comum interesse entre o mundo corporativo e o terceiro setor, e este ano resolvemos tratar do assunto do momento: o Environmental Social Governance, conhecido como ESG. Em tradução livre, pode-se dizer que a ESG trata de uma estratégia empresarial que combina ações de sustentabilidade, transparência e olhar para as questões sociais.

O evento foi transmitido ao vivo para o youtube da Fundação do auditório do SENAC RJ, que foi nosso parceiro, e além da colaboração da assessora da diretoria regional da instituição, Carla Monnerat, também recebemos a ex-diretora de Responsabilidade Social da Globo e professora da UFRJ, Beatriz Azeredo.

O debate foi mediado pela Diretora Executiva da Fundação Gol de Letra, Beatriz Pantaleão. Ela apresentou as convidadas ao público e falou sobre a escolha do tema. “Escolhemos o ESG porque ele veio para ficar. Isso nos deixa muito felizes, porque são assuntos que já permeiam o terceiro setor há muito tempo”, disse.

Quem iniciou o debate foi a professora da UFRJ, que trouxe um panorama de diversos marcos ligados às temáticas centrais da ESG (sustentabilidade, olhar social e transparência) nos últimos anos, desenhando uma linha do tempo desde 1995, com o Protocolo Verde, passando pelos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) em 2015, a própria pandemia de 2020 e a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP26), que acontece esse ano em Glasgow, na Escócia.

“Está claro que só se fala nisso. Então o que o ESG traz de novo? Tem novos atores na mesa”, respondeu Azeredo. “O mercado financeiro está se posicionando nessa direção, os gestores financeiros e acionistas estão preocupados com isso, ou seja, está batendo no patrimônio”.

A ex-diretora de Responsabilidade Social da Globo ainda afirmou que muitas pesquisas estão mostrando o impacto dessas questões no negócio. Empresas que não estão preocupadas com a sustentabilidade, transparência e questões sociais estão encontrando entraves no próprio consumidor e na retenção de talentos.

“A sociedade em geral está acompanhando a pauta da ESG com desconfiança, querendo saber até que ponto isso vai avançar e querendo que as empresas liderem processos de mudança e façam diferente. A sociedade está olhando para empresas e esperando exemplos”, opinou a especialista.

Ações transversais e questão social

Para Beatriz, a inovação trazida pelas estratégias ESG é justamente o conjunto de ações pensando nos 3 eixos centrais. “Não tem letra mais importante, elas estão interligadas. Não é só ambiental, nem só social nem só governança. Esse é o pulo do gato. Se não andar junto, não dá para avançar”, disse.

Ela deu exemplos de práticas estratégicas da ESG. “Uma empresa com abordagem ESG tem processos estruturados para proteger os recursos naturais, tem compromissos e políticas efetivas de aumentar a diversidade e cuida da lisura dos processos corporativos, da cultura empresarial”.

Ainda assim, a especialista afirma que o S, em ESG, é o maior desafio. “As empresas já entenderam que as questões sociais têm impacto no negócio. Existe a intenção de avançar nisso, mas ao mesmo tempo as estatísticas mostram que colocar indicadores sociais para tomar decisões de investimento é o fator mais difícil. Ainda temos muito que avançar e mostrar resultados nessa frente”, avaliou Beatriz.

Para Azeredo, a questão ambiental ganha destaque devido aos inúmeros dados, pesquisas e relatórios que mostram a urgência da questão. “Já chegamos à conclusão que a questão ambiental é um risco sistêmico. Mas quando vamos nos dar conta que no Social também temos um risco sistêmico grave? Os indicadores estão aí, a fome, a pobreza, a desigualdade, a falta de acessibilidade, o abandono da escola. Temos um risco sistêmico bem delineado na questão social também”, opinou.

Pequenas empresas

Carla Monnerat, do SENAC RJ, contribuiu muito com o debate trazendo a perspectiva das pequenas empresas e como as estratégias ESG também devem permear os negócios de menor porte. “A pequena empresa não pode ser desprezada neste debate, pois é um agente muito importante na transformação da sociedade e do mundo”, afirmou a assessora de diretoria regional.

“Essas empresas merecem ter investimento para colocar ações ESG em prática, é preciso que elas coloquem esforços para se atualizarem desse conceito e não fiquem à margem desse movimento, pois é uma oportunidade. Hoje temos o mundo refletindo, repensando, se reinventando”, opinou.

Para Carla, as pequenas empresas podem pensar ações ESG com foco no impacto local de seus negócios. “Dentro da mentalidade ESG, como podemos fazer esses investimentos no território onde vivo, moro, produzo e consumo? Conseguimos imaginar um diálogo muito interessante entre grandes corporações e pequenas empresas a partir desse olhar”.

O papel do terceiro setor

Durante todo o debate, ficou claro que as organizações da sociedade civil, as iniciativas sem fins lucrativos e o terceiro setor em geral tem um papel importante para cumprir dentro da estratégia ESG. “A ESG é um diálogo com a sociedade protagonizado pelas empresas e o 3º setor tem um papel para ocupar, porque eles já trazem resultados nessas áreas há muito tempo”, opinou Beatriz Azeredo.

A fala da mediadora Beatriz Pantaleão resume bem a questão. “No terceiro setor, as práticas ambientais, sociais e de governança são muito íntimas, pois já nascemos com essa base. A entrada desses novos atores nessas questões nos dá muita esperança, porque o segundo setor traz um reforço importante. O planeta, a transparência, a sociedade, tudo já chegou no limite. Ou é ESG ou é ESG”, opinou.

O vídeo completo do Encontro com Investidores pode ser acessado no Youtube da Fundação Gol e Letra, ou no link abaixo: