Ouvir, apoiar, informar, mobilizar, conectar, transformar. Esse foi o objetivo da ação realizada pelas Agentes Sociais da Fundação Gol de Letra em alusão ao Dia Internacional da Mulher. O tema foi a violência doméstica.

Definida como uma “performance poético-artística” pela educadora Márcia Silva, que realiza a formação das agentes, a atividade começou com as mulheres em formação caminhando pelo bairro da Vila Albertina-SP com cartazes e uma caixa de bilhetes de três tipos: uns tinham denúncias, outros continham dados e informações sobre a violência contra a mulher e outros ainda vinham com frases de acolhimento.

Alguns bilhetes traziam relatos pessoais. “Eu já sofri violência e sei como é, então essa ação de hoje foi muito boa. Gostei porque, quando eu sofri violência, não falei para ninguém, mas tem que denunciar”, contou Regina, uma das mulheres em formação. Outra agente social, Lilian, também compartilhou sua história. “Eu também já fui violentada fisicamente, me agrediram e hoje podemos mostrar que não estamos sozinhas”.

A educadora Márcia disse que o objetivo da ação foi colocar em prática um dos 3 pilares da metodologia Gol de Letra: a multiplicação. “Fomos para a rua dialogar com as pessoas, mostramos alguns casos pessoais e falamos dos caminhos para denunciar, informamos sobre os dados da violência contra a mulher no Brasil e ouvimos a história de outras mulheres que encontramos durante a ação. Algumas contaram as violências que sofreram e como não foram recebidas corretamente pela delegacia, e nós acolhemos esse desabafo”.

A agente Kyyane falou como esse momento foi importante. “Pudemos ver como as mulheres são silenciadas, caladas. Elas vão buscar ajuda e quem atende faz pouco caso”, opina.

A segunda parte da intervenção artística também aconteceu na rua: ao som de “Mulher do Fim do Mundo”, de Elza Soares, dados sobre a violência contra a mulher foram escritos em batom vermelho na camiseta branca de uma das agentes sociais. A ideia é que o vermelho do batom representasse o sangue, e que a música chamasse a atenção dos transeuntes para a informações que estavam sendo transmitidas.

Todo o material usado na atividade, cartazes, bilhetes e informações colhidas também foram parte do processo de capacitação das agentes. “Tem uma proposta pedagógica por trás, de realizar um estudo sobre quantas e quais violências são essas, quais leis nos amparam e como funcionam”, contou Márcia.

“A proposta é que elas vejam também como é diferente estarmos num ambiente interno durante as oficinas e quando a gente vai para a rua e se depara com mulheres e outras pessoas para falar sobre isso. É colocar na prática tudo que a gente vem aprendendo e construindo dentro da sala”, diz a educadora.

Outras agentes sociais também compartilharam suas impressões sobre a atividade. Para Ana, “a intervenção foi muito importante, porque pudemos ver que na nossa comunidade as mulheres são fortes, mas juntas são mais ainda. Esse ato é muito importante não só hoje, mas todos os dias do ano”.

Regiane também opinou: “Já sofri agressão, vi minha mãe e minhas tias sofrerem. A ação de hoje foi para incentivar as mulheres a denunciar e parar com isso que mulher tem que ser espancada, agredida. Tem que ser respeitada”.

A Formação de Agentes Sociais

O projeto tem como objetivo capacitar mulheres para que sejam agentes de transformação de suas realidades; contribuir para a promoção da garantia de direitos; contribuir para o desenvolvimento comunitário dos territórios da Vila Albertina e do Caju.

Espera-se que as mulheres participantes possam se tornar agentes multiplicadoras de conhecimentos e práticas nas temáticas relacionadas ao exercício da cidadania e à garantia de direitos. Além de articular, mobilizar ações dentro da comunidade onde vivem e coletivamente com a Fundação.