Setembro Amarelo: Como anda a saúde mental dos jovens?
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O mês de setembro é marcado pela campanha brasileira de prevenção ao suicídio, conhecida como Setembro Amarelo. Iniciada em 2015 e desenvolvida em conjunto pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), o Conselho Federal de Medicina (CFM) e a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), essa campanha tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância da prevenção do suicídio, bem como desmistificar um tema que, até hoje, é considerado um tabu.
Neste contexto, é fundamental abordar a saúde mental dos jovens, um grupo vulnerável que enfrenta crescentes desafios. Dados alarmantes revelam a precariedade do rastreamento de doenças mentais, com diagnósticos frequentemente feitos tardiamente, representando apenas a “ponta do iceberg” das questões psiquiátricas. Segundo uma pesquisa Datafolha de 2022, oito em cada dez brasileiros de 15 a 29 anos relataram problemas de saúde mental recentemente, incluindo pensamentos negativos, dificuldade de concentração e crises de ansiedade.
Um Panorama Preocupante
A pesquisa revela que a maioria desses jovens sofre com pensamentos negativos (66%), dificuldade de concentração (58%) e crises de ansiedade (53%). Mais preocupante ainda é o fato de que mais da metade avalia sua saúde mental como regular, ruim ou péssima, sendo que as mulheres são mais afetadas que os homens em quadros de depressão e ansiedade. O bullying, discriminação no trabalho e sobrecargas de múltiplas funções no cotidiano contribuem para a maior prevalência de depressão entre as mulheres.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) alerta que metade das doenças mentais têm início por volta dos 14 anos de idade, tornando os jovens um grupo especialmente vulnerável. Solidão, automutilação e ideações suicidas também aumentaram entre eles, demonstrando a necessidade urgente de atenção à saúde mental dessa faixa etária.
De acordo com a OMS, a qualidade do ambiente onde as crianças e os adolescentes crescem determina o seu bem-estar e desenvolvimento. Além disso, experiências negativas precoces em casa, no ambiente escolar ou espaços digitais, como exposição à violência, bullying e pobreza, aumentam o risco de transtornos mentais.
A pandemia de COVID-19 agravou ainda mais o quadro de saúde mental dos jovens. Fatores de resiliência, como os vínculos sociais, a escola e a prática de atividades físicas, foram negligenciados durante os períodos de confinamento. Antes da pandemia, a prevalência de transtorno depressivo maior entre adolescentes era de cerca de 13% a 15%. No entanto, uma análise recente revelou que cerca de 1 em cada 4 jovens apresentou sintomas depressivos clinicamente significativos durante a pandemia, com taxas mais altas entre as adolescentes.
Enfrentando o Problema
Para enfrentar esse grave problema, é preciso implementar estratégias abrangentes. Campanhas educativas desempenham um papel fundamental, mas não são suficientes por si só. O preparo e treinamento de professores, bem como o suporte psicológico nas escolas, são vitais para identificar e tratar problemas precocemente. Além disso, é imperativo desestigmatizar a doença mental, tornando o diagnóstico e tratamento acessíveis a jovens de diversas classes sociais.
Políticas públicas eficientes na área de saúde mental, desenvolvidas com o auxílio de especialistas, também são essenciais. A redução das desigualdades sociais e econômicas pode ajudar a proteger a saúde mental dos jovens.
O compromisso da Fundação Gol de Letra
Nesse cenário desafiador, a Fundação Gol de Letra tem desempenhado um papel importante na promoção da saúde mental dos adolescentes e jovens atendidos. Consciente de que o ambiente em que as crianças e adolescentes crescem é crucial para o seu bem-estar e desenvolvimento, investimos em capacitar sua equipe sócio pedagógica para identificar questões que necessitem de encaminhamento específico para rede de saúde quando necessário, bem como para desenvolver ações pedagógicas de acolhimento e de promoção de saúde emocional para seus atendidos.
Além disso, a Fundação Gol de Letra estabeleceu parcerias estratégicas, como a colaboração com a ASEC Brasil (Associação pela Saúde Emocional), que oferece o curso “Promover para Prevenir em Saúde Mental para Profissionais em Apoio aos Adolescentes e Jovens”. Esse curso visa equipar os profissionais com as habilidades necessárias para lidar com questões de saúde mental os atendidos.
Alguns jovens da Fundação também estão recebendo capacitação. O curso “Promover Para Previnir”, também da ASEC Brasil, está sendo realizado pelos monitores do Programa de Jovens. Os monitores são jovens selecionados pela Gol de Letra para passar por 2 anos de formação multidisciplinar, e também atuam como mediadores entre educandos e educadores nas oficinas.
O monitor Jason Lucas compartilhou sua experiência com o curso, enfatizando como ele aprendeu sobre a importância de cuidar de sua própria saúde mental e emocional, bem como a ajudar os outros em situações de crise. “Aprendi que é muito importante cuidar da sua saúde mental e emocional para viver a vida no ambiente de trabalho, na escola, na vida social. Eu aplico muito isso no meu dia a dia, na escola, onde tenho muitos colegas que desabafam comigo e uso as dicas que o curso deu. Ajuda a entender as suas emoções, como isso afeta seus comportamentos, e o curso acaba ensinando a lidar com isso também”.
Em meio aos desafios enfrentados pela saúde mental dos jovens, o Setembro Amarelo serve como um lembrete essencial da necessidade de ação. Enfrentar esse problema requer esforços coletivos, e é fundamental que todos os setores da sociedade se unam para garantir que os jovens tenham acesso ao apoio de que precisam para florescerem emocionalmente e mentalmente. A Fundação Gol de Letra, por meio de suas iniciativas e parcerias, demonstra seu compromisso em fornecer o suporte e educação necessários.
Fontes:
https://www.paho.org/pt/topicos/saude-mental-dos-adolescentes