Empoderamento e resistência: as lideranças comunitárias femininas do Caju e da Vila Albertina
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O trabalho da Fundação Gol de Letra sempre foi pautado na articulação e colaboração com organizações e lideranças que já atuam dentro dos territórios atendidos. Acreditamos que a troca de experiências e o esforço conjunto é importante para implantar ações sociais seguras e qualificadas, contribuindo para a garantia de direitos, a representação política e às mudanças sociais.
No mês da luta pelos direitos das mulheres, abrimos espaço para contar as histórias e lutas de mulheres que estão ao nosso lado ajudando a transformar as realidades do Caju e da Vila Albertina.
Associações de Moradores
Criadas nos anos 1940, as associações de moradores de favelas sempre ocuparam o papel importante nos movimentos sociais. Atualmente, as associações são uma ponte entre os moradores e o poder público, e tem o papel importantíssimo de buscar melhores condições para os territórios que atuam, na luta por saneamento básico, energia elétrica, coleta de lixo.
Também auxiliam e encaminham os moradores para terem acesso à documentação, serviços de saúde, fornecem comprovante de residência, além do recebimento de encomendas e sua distribuição.
A luta contínua por melhores condições nos territórios que ocupam se reflete nas falas das nossas entrevistadas, as lideranças comunitárias femininas.
Caju-RJ
No Caju, bairro da zona portuária do Rio de Janeiro que comporta um complexo de favelas com 8 comunidades. Esses locais, são fortalecidos pelo trabalho das associações de moradores e o trabalho em rede com o Centro de Referência de Assistência Social (Cras) e outros agentes comunitários como a Fundação Gol de Letra, ONGs locais, escolas, clínica da família, entre outros.
Para Ariane de Souza, presidente das associações do Parque Boa Esperança e Parque Alegria, o trabalho em conjunto com a Fundação Gol de Letra é importante para levar mais lazer e tempo de qualidade para as crianças e jovens.
A sua grande luta é tirar o Caju da invisibilidade e mostrar a comunidade além das notícias da televisão e jornais, como cemitério e usina de lixo. “No Caju existem estudantes de universidades públicas, advogados, empreendedores, professores. Somos uma comunidade maravilhosa com uma grande potência”, diz.
A associação do Parque São Sebastião tem como presidente Kelly do Santos. Ela diz que o trabalho com a Fundação ajuda no encaminhamento de famílias mais vulneráveis para um melhor acompanhamento em questões que ela não consegue resolver sozinha.
A presidente do São Sebastião conta que sua maior dificuldade é manter a associação como deveria e ajudar mais os funcionários. Atualmente os recursos financeiros são provenientes da taxa mensal paga pelos moradores para serviços de entregas de correspondências e encomendas. Kelly tem o sonho de ver a comunidade sendo respeitada pelos órgãos públicos e que os serviços cheguem de maneira digna para a população.
Vila Albertina-SP
Na Zona Norte de São Paulo, a Gol de Letra também mantém um contato próximo com as organizações e lideranças comunitárias da Vila Albertina. Fazem parte dessa rede as associações de moradores, Unidade Básica de Saúde, CRAS, escolas públicas e até espaços religiosos.
Muitas vezes, as ações sociais são encabeçadas de forma voluntária por quem quer ver o bairro prosperar. É o caso da Dona Eva e da Socorro, histórias que contamos abaixo:
“Dona Eva”
Eva da Silva Ern é pedagoga e educadora socioambiental. Se mudou para a Vila Albertina, zona norte de São Paulo, nos anos 1980, e mesmo naquela época já mobilizava a comunidade lutando contra o aterro sanitário que incomodava os moradores.
A Dona Eva, como é conhecida na comunidade, atualmente coordena de forma voluntária o “Espaço Alfaeco”, um núcleo de alfabetização de jovens e adultos ligado à Associação dos Moradores da Zona Norte (AMZN).
Ela também cuida da horta em uma escola estadual onde atua, recolhe óleo de cozinha e fabrica sabão, promove um brechó com roupas doadas e recicla livros e cadernos doados que não estão em bom estado. Os que ainda podem ser usados incentivam a leitura entre os alunos da alfabetização.
Em parceria com a Gol de Letra, ela já realizou o “Dia de Fazer a Diferença”, com seu projeto RECICLAÇÃO, ajudou a construir uma biblioteca comunitária e ainda participa dos eventos abertos da Fundação com ações de incentivo à leitura e troca de livros.
“Essa é a minha caminhada. Gosto de fazer a minha parte como contribuição aos que virão. É o que escolhi fazer, minha missão”, conta Eva. “Fazer o bem dentro de uma igreja fica limitado ao ritual de caridade e é preciso ir além disso, oferendo conteúdos de protagonismos a essas pessoas, como dizia Paulo Freire”.
Socorro
Socorro Oliveira é dona de uma lanchonete na Vila Albertina, mas o trabalho que realmente mexe com seu coração é voluntário. Ela coordena uma comunidade católica no bairro, uma capela que realiza ações eclesiásticas, mas também abre espaço para ações sociais na comunidade.
O contato com a Fundação Gol de Letra aconteceu através da Unidade Básica de Saúde (UBS) do bairro, que atuava em parceria com as duas instituições. Junto da Gol de Letra, o espaço da comunidade católica passou a oferecer também grupos para jovens, palestras, mostras de cinema, saraus, entre outras atividades.
Durante a pandemia, o espaço administrado pela Socorro foi um dos pontos de distribuição de alimentos, itens de higiene e marmitas prontas que a Fundação Gol de Letra conseguiu através de doações. “Foi um trabalho grande e complicado, você via muita gente doente, morrendo, gente sem nada dentro de casa, mas foi muito gratificante conseguir ajudar essas pessoas”, conta ela.
Sobre o que motiva suas ações na comunidade, Socorro afirma: “Eu sempre gostei desse tipo de trabalho, eu acho que não sei viver minha vida sem isso. Eu sempre quero ajudar, mas sempre dentro do que eu posso. É muito gratificante, eu amo de paixão isso que eu faço”.