Os efeitos paralelos das operações policiais nas comunidades do Rio de Janeiro

As comunidades do Rio de Janeiro estão ocupadas pelo crime organizado há anos. Os moradores e moradoras se tornaram reféns de uma rotina de violências, restrições e mortes provocadas pelos constantes conflitos entre os criminosos e o Estado. As políticas de repressão ao tráfico de drogas e, mais recentemente, as milícias têm produzido uma série de assassinatos de pessoas inocentes e também dos próprios envolvidos nesta guerra. Policiais e suspeitos têm sido amplamente massacrados nestes confrontos que parecem não tem perspectiva de arrefecimento ou fim.

A discussão que cabe neste breve texto, além de destacar a rotina de medo e mortes, recai sobre os efeitos paralelos das operações cotidianas contra o tráfico de drogas/milícias que ocorre no Rio de Janeiro. São milhares de crianças sem aulas, trabalhadores impedidos de sair ou entrar em casa por conta dos riscos de serem baleados, trânsito interrompido, comércio fechado, caos generalizado.

Entendemos as dificuldades enfrentadas pelo Estado na luta contra a criminalidade, sabemos do forte aparato de armas, comunicação e corrupção que favorece as organizações criminosas. Contudo, a rotina de operações policiais em nada vem enfraquecendo o poder das facções e quadrilhas que atuam nestes espaços. Há sim avanços, apreensões de armas, drogas e prisões, mas o confronto por si só é responsável por uma verdadeira carnificina que afeta toda a cidade, não só as comunidades e periferias.

Não há como repor os prejuízos gerados pela guerra sem fim instalada na cidade. São milhares de pessoas afetadas todos os dias, sem qualquer tipo de compensação e ainda colocadas na linha de frente de todos os riscos possíveis à sua integridade. Um estudo de 2021, divulgado pela rede CNN[1] releva que moradores de favelas cariocas vivem 29 anos menos que moradores de áreas nobres, e o Rio de Janeiro possui quase 1,5 milhões de moradores em suas mais 700 comunidades.

Nossa reflexão recai novamente sobre os prejuízos diretos desta política de combate ao crime pautada quase que sempre no confronto. Não é mais possível aceitar mortes como efeitos colaterais, perda de renda, perda de aulas e do direito de ir e vir como medidas somente cautelares. Já passou da hora de nos posicionarmos mais efetivamente como sociedade a respeito do tema e da nossa não aceitação de suas consequências.

As perdas têm sido irreparáveis e a situação da segurança pública não melhora efetivamente nestes territórios. Não podemos aceitar políticas de segurança diferentes, baseadas em classes sociais. Todos e todas têm direito à vida, à educação e a se sentirem seguros dentro e fora de suas casas. Este tema é fruto de muitos estudos qualificados e profundos, contudo, a boa e velha conversa seguida de reflexão ajuda a nos tirar da perplexidade e da “normalização” de uma rotina que é histórica, mas não está determinada a ser sempre a mesma.


[1] https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/moradores-de-favelas-do-rj-vivem-ate-29-anos-menos-que-habitantes-de-areas-nobres-diz-estudo/

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