“Mais que uma capacitação, um norte para a vida”
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Programa Juventude e Oportunidade, da Fundação Gol de Letra com patrocínio da Petrobras, abre novos horizontes para jovens do Caju
Qualificação para o mundo do trabalho e desenvolvimento pessoal como estratégias de enfrentamento ao desemprego. Num Brasil onde a população de 17 a 29 anos é a mais afetada pela desocupação de longo prazo, isto é, que dura mais de dois anos, o Programa Juventude e Oportunidade, da Fundação Gol de Letra com patrocínio da Petrobras por meio do Programa Petrobras Socioambiental, vem abrindo novos horizontes para jovens a partir dos 16 anos da comunidade do Caju, no Rio de Janeiro.
A capacitação gratuita do Juventude e Oportunidade, que faz parte do Projeto Caju Esporte Educação, é realizada em parceria com o SENAI. São em média 200 vagas por ano para os programas de Assistente Administrativo, Operador de Computador, Funileiro de Automóveis, Eletricista Instalador Predial de Baixa Tensão, Auxiliar de Operação em Logística Portuária, Alimentador de Linha de Produção e Pintor de Automóveis. A duração varia de acordo com a área e os cursos são certificados, o que amplia as oportunidades de inserção no mercado de trabalho.
A consultora comercial da TV Globo Christine Tavares dos Santos, de 22 anos, conta que conquistou o seu emprego graças aos conhecimentos adquiridos no curso de Operadora de Computador, que fez no primeiro semestre de 2021. Christine mora com os pais, dois irmãos e três sobrinhos. Ela é a única da família empregada atualmente.
“Antes do curso, fui jovem aprendiz numa empresa, mas precisava apresentar relatórios e não sabia usar o computador. Por isso, fui buscar uma formação. Conheci o Programa Juventude e Oportunidade e, assim que terminei, surgiu a vaga. Houve uma prova de informática e eu sabia tudo. Hoje, no meu trabalho, faço planilhas, layouts para comunicados, programação de envio de e-mails. Pretendo fazer agora o curso de Assistente Administrativo e futuramente cursar faculdade de Administração”, conta.
A segunda linha focal do Juventude e Oportunidade é um diferencial do programa: com uma estrutura de mentoria para desenvolvimento pessoal e intraempreendedorismo, os jovens são ouvidos e orientados em questões como apresentação, organização e planejamento, explica a assistente social da Fundação Gol de Letra, Karina Avelar:
“Trabalhamos as questões raciais, de gênero, de segurança pública e de desigualdades no mercado de trabalho, desenvolvendo habilidades de comunicação oral e escrita, de negociação e auxiliando na elaboração do currículo e na construção de um plano de carreira. Isto é, além da capacitação profissional, esses jovens começam a conhecer e entender melhor a sociedade em que estão inseridos, como são impactados por ela e como podem provocar impacto”.
Karina destaca que os dados econômicos e sociais apontam para a ideia de que os jovens param de procurar emprego – os “nem-nem”, que não estudam nem trabalham –, mas, na prática, o que ela observa é uma frustração com as recusas do mercado e a subutilização:
“O que percebemos é que o não entendimento das lógicas de funcionamento do mercado de trabalho e as experiências negativas levam, na realidade, a um desânimo dos jovens. Por isso, começamos a trabalhar essas temáticas, desenvolvendo estratégias individuais e coletivas”, destaca Karina.
Lucas Barros, de 25 anos, fez o curso de Funileiro de Automóveis em 2019. Atualmente, está trabalhando em outra área, mas diz que, mais que uma capacitação, o Juventude e Oportunidade foi “um norte para a vida”.
“Eu não sabia nada sobre o mercado de trabalho, não tinha nenhuma visão dos desafios da vida profissional, não conhecia direitos trabalhistas. A gente começa a enxergar que pode ir além da nossa realidade. Meu pai é camelô e minha mãe, empregada doméstica. A primeira pessoa que conheci da minha cor, da minha representatividade, que ocupava um cargo de atividade intelectual foi o meu mentor no programa, Estêvão Nascimento. Hoje, estou dando um novo rumo à minha carreira, quero fazer faculdade de psicologia’, conta.
A partir de um estudo de perfil dos alunos para apurar as razões de evasão dos cursos e desenvolver estratégias de retenção, a equipe do Programa Oportunidade e Juventude observou que muitas jovens mulheres abandonavam os estudos porque precisavam cuidar de filhos ou parentes com necessidades especiais.
“Começamos a pensar nas alunas no âmbito da família, buscando incluir as crianças e os adolescentes nos programas da Fundação e fazendo uma articulação com a Biblioteca Comunitária, que oferece atividades de lazer e educativas para o público infanto-juvenil, para que essas mulheres pudessem dedicar mais tempo à formação. Quando as crianças não têm idade suficiente para participar dessas atividades, são acolhidas e acompanham as mães nas aulas, com exceção dos cursos com periculosidade, como os do setor automotivo. O cuidado com outros parentes ainda é um desafio”, diz Karina.
Além disso, acrescenta a assistente social, havia a evasão de jovens que conseguiam algum trabalho formal ou informal, revelando a necessidade de renda imediata.
“Com base nessa informação, desde o ano passado, a fundação vem desenvolvendo um banco de currículos e empresas parceiras nos comunicam quando há processos seletivos abertos. Assim, nós fazemos uma busca de currículos de acordo com os pré-requisitos das vagas. Já conseguimos encaminhar, até outubro de 2021, 395 pessoas
para empregos, sendo 40% alunos dos cursos do Programa Juventude e Oportunidade e 60% não alunos. Mas, no caso de jovens ou adultos que participaram das qualificações da Fundação Gol de Letra em parceria com Petrobras, 100% foram aprovados nos processos seletivos”, conta Karina.