Os Desafios das Secretarias de Juventudes
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Não é de agora que nós nos preocupamos com a condição do jovem brasileiro, em especial e fundamentalmente do jovem brasileiro pobre, morador das periferias desse Brasil tão desigual.
Não é de agora que a Fundação Gol de Letra se incomoda com a falta de perspectivas concretas das comunidades periféricas geograficamente e socioeconomicamente excluídas desse país tão pouco solidário.
Temos um histórico de preocupação e atuação no eixo da Educação Integral para todos. Ampliar o repertório cognitivo de quem tem pouquíssimas oportunidades de crescimento intelectual e cultural poder ser definido como o nosso lema quando pensamos nas crianças, adolescentes e jovens das comunidades atendidas pela Fundação.
Apostamos em nossa metodologia, nosso cuidado, nossos educadores, assistentes sociais, gestores e toda a nossa equipe de profissionais que se dedicam há anos em nossos programas e projetos.
Atuamos com riquezas humanas desde os 6 anos de idade e em um projeto específico e recente com crianças desde os 3 anos em creches do Caju.
Nossa juventude, ou nossas “juventudes”, como é correto dizer (me corrigem sempre que podem minhas Coordenadoras de Projetos de Juventude), compreendem desde adolescentes de 14, 16 anos até adultos com 29 anos ou mais.
Um dos temas que mais nos angustiam dizem respeito aos desafios a que os jovens brasileiros periféricos estão e estarão enfrentando nos anos que virão.
Um exemplo é a pesquisa desenvolvida pelo Instituto Cíclica, em parceria com o Instituto Veredas, realizada entre os meses de agosto e novembro de 2022. O estudo apresenta as tendências do mundo do trabalho e o retrato das juventudes brasileiras nesse cenário, e indica o aumento da desigualdade entre os jovens que possuem e os que não possuem acesso à internet e a dispositivos digitais.
Jovens representam cerca de 24% da população brasileira. Apesar de o Brasil ter atingido, em 2009, o ápice do seu “bônus demográfico” – que consiste na concentração de um maior contingente da população na faixa etária apta a trabalhar –, essa tendência está em reversão devido ao envelhecimento da população. Isso coloca desafios para o futuro.
Entre os jovens brasileiros, há prevalência de pretos e pardos (que somam cerca de 60% da juventude) e de concentração nas áreas urbanas (85% dos jovens vivem nas cidades, e 15% vivem na área rural). Quanto à renda, jovens acompanham os dados gerais, que indicam que cerca de 60% das pessoas vivem com até dois salários-mínimos.
Posso dizer que os jovens que frequentam os Programas da Gol de Letra estão certamente ainda abaixo em termos de renda média e condições de competição no mercado de trabalho, em relação ao que mostra a pesquisa que já traz números preocupantes.
Na avaliação do estudo: “É muito claro e urgente para nós que que empresas, sociedade civil e governos adotem agendas inclusivas, agindo ativamente para combater as desigualdades no mundo do trabalho.” Além disso, aqui entra a visão da Gol de Letra e nossa proposta de trabalho, “para implantar políticas de inclusão produtiva efetivas, é necessário atuar além do mundo do trabalho. É preciso integrar ações na escola, na família e na assistência social. Todas essas iniciativas devem ser pensadas considerando as diferentes situações juvenis com relação ao trabalho.”
No que diz respeito à Fundação Gol de Letra montamos há alguns anos o “GT Juventude”, um grupo de trabalho que, pretendemos, atue por um lado como um observatório das “nossas juventudes”, nosso público, e por outro lado formule propostas de forma constante e atual para o trato com todas essas questões tão complexas que incidem diretamente no dia a dia desses jovens.
Deixo a pergunta que para mim é inevitável e fundamental: onde estão as políticas públicas para essas juventudes? O que estão fazendo as Secretarias de Juventude nos vários níveis do estado responsável, que é municipal, estadual e federal?
Termino com uma reflexão produzida pelo nosso GT Juventudes:
“Há muitos desafios históricos que necessitam ser superados para que as potencialidades existentes nos jovens, não sejam desperdiçadas frente as vulnerabilidades como experiências de abusos, violência, baixa escolaridade, evasão escolar, desemprego, precarização dos salários e falta de qualificação profissional,comportamentos de baixa estima, ausência de confiança nas instituições locais, sentimentos de limitação impostos pelo gênero, pobreza.
A Educação Integral como concepção educacional, pode ajudar alavancar os jovens rumos à superação desses limites, a fim de reafirmar a força potente das juventudes vivas, desenvolvidas e preparadas para a vida futura, o desenvolvimento humano integral das Juventudes requer investimentos substânciais seja por meio de projetos, programas, parcerias.”
GT Juventudes – Gol de Letra
*Sostenes Oliveira, Diretor Geral da Fundação Gol de Letra