O Grupo Itaú apoia a Fundação Gol de Letra através da Fundação Itaú desde 2007. Nesta entrevista, Luciana Nicola – superintendente de Relações Institucionais, Sustentabilidade e Empreendedorismo do Itáu Unibanco – rememora os anos de relação entre a Gol de Letra e o banco. Veja a conversa completa:

Em 2013 a Gol de Letra foi a grande vencedora do prêmio Itaú – UNICEF, o que demonstra a convergência nos objetivos Sociais estratégicos do Banco e da Gol de Letra com a causa da Educação Integral. Apoiar a causa da educação Integral continua tendo importância estratégica dentro dos objetivos sociais do Banco?

Desde 1995, o Prêmio Itaú-UNICEF teve como objetivo identificar e valorizar iniciativas de Organizações da Sociedade Civil (OSCs) de todo o Brasil que atuam na perspectiva da educação integral. Em sua 10ª edição, cujo tema foi ‘Educação Integral: Crer e Fazer’, a partir da análise de 2.713 projetos inscritos, a Fundação Gol de Letra ganhou como vencedor nacional com o projeto Virando o Jogo. A qualidade da atuação da organização na periferia da zona norte de São Paulo garante o desenvolvimento integral de centenas de crianças e adolescentes da região.

A partir do conhecimento acumulado de mais de duas décadas, seguimos com o compromisso de fortalecer a Educação Integral em nosso País. Este ano, com a experiência do prêmio, o Itaú Social, em parceria com Cenpec e UNICEF lançou o Programa Itaú Social UNICEF que tem o objetivo de realizar formação e fomento financeiro a OSCs que trabalham na defesa e garantia de uma educação integral e inclusiva para crianças e adolescentes em todo território nacional. Acreditamos que esse processo proporcionará o aprimoramento de suas práticas e a qualificação dos resultados alcançados.

Um dos projetos apoiados é o Programa Dois Toques, no Rio de Janeiro, que oferece atividades esportivas, leitura e escrita, informática e artes para crianças e adolescentes. Como você vê a importância pra criança em ter contato com essa diversidade de atividades pedagógicas e se as escolas públicas poderiam assimilar esse tipo de experiência?

Possibilitar a diversidade de oportunidades educativas para as crianças e adolescentes é fundamental para que possam se desenvolver em sua integralidade. As organizações da sociedade civil certamente contribuem para ampliar o repertório sociocultural por meio das diferentes atividades que oferecem. Assim como no Programa Dois Toques, oferecido pela Gol de Letra, qualificar a intenção pedagógica é essencial para que gerem impactos positivos no desenvolvimento das crianças e dos adolescentes. Acreditamos que a parceria entre escola e organizações da sociedade civil é uma necessidade urgente para potencializar e qualificar os resultados obtidos.

Neste momento de pandemia, torna-se essencial unir esforços para que a criança e o adolescente mantenham o vínculo com a escola, para que não tenhamos aumento dos índices de evasão escolar. Em geral, as organizações possuem forte vínculo com as famílias e comunidades, o que agora é ainda mais fundamental para garantir que permaneçam conectadas aos seus processos de aprendizagem.

Outro projeto apoiado pelo banco é o Jogo Aberto na Vila, realizado em São Paulo, cujo eixo principal é oferecer atividades esportivas, tanto aos atendidos diretos quanto aos alunos de escolas públicas. Como o Itaú vê o papel do esporte para a busca de uma educação integral?

A educação integral pretende contemplar o desenvolvimento das crianças e adolescentes nas dimensões física, emocional, intelectual, social e cultural. Compreendemos que o esporte é uma excelente estratégia para alcançar esse resultado de forma articulada. Concentração, memorização, iniciativa, pensamento crítico, persuasão, negociação, atenção aos detalhes, resiliência e flexibilidade são exemplos de habilidades que podem ser desenvolvidas por meio do esporte. O grande diferencial para que as atividades esportivas tenham essa perspectiva da educação integral é a intencionalidade pedagógica ao planejar suas ações.

É importante que a educação formal também ofereça as diferentes modalidades esportivas e práticas de atividade física para potencializar o desenvolvimento das crianças e adolescentes nas outras dimensões. Incorporar no currículo o esporte articulando com as demais disciplinas e garantir espaços adequados para sua prática, possibilita que as crianças e adolescentes valorizem uma vida mais saudável e desenvolvam habilidades fundamentais para o exercício da cidadania.

Sobre os dois projetos apoiados: de que forma vocês veem estes projetos transformando a realidade social a longo prazo?

Em 2019, o Itaú Social realizou um estudo sobre a importância das artes e esportes para o desenvolvimento integral de crianças e adolescentes. As análises evidenciam que o currículo escolar prioriza matérias que estimulam o desenvolvimento cognitivo, não tendo a dimensão de que as práticas esportivas podem ser fundamentais para potencializar inclusive o desenvolvimento mental e emocional. É importante registrar que o esporte não é solução para todas as questões educacionais existentes em nosso País. Porém, se for utilizado de maneira estratégica, com as crianças e os adolescentes, em médio e longo prazo, poderemos ter impactos positivos, diminuindo os índices de sedentarismo e obesidade infantil, aumentando as condições de saúde, reduzindo níveis de stress, ampliando a capacidade de resolução de problemas e atividades cooperativas.

O apoio do Itaú é feito através de leis de incentivo. Para a empresa, quais os benefícios desse modelo de “patrocínio” para projetos sociais, considerando o cenário econômico atual?

O investimento social privado em um cenário econômico adverso se faz necessário e prioritário justamente pela oportunidade que a empresa tem de tornar-se protagonista e gerar resultados positivos em áreas que o setor público, sozinho, não tem condições de atender ou que não são priorizadas. As empresas dialogam com a sociedade e estão cada vez mais conectadas com contextos que vão além daqueles nos quais os clientes estão inseridos. Nesse sentido, conseguem somar esforços com o poder público e com as organizações da sociedade civil para juntos construírem soluções e inovações que atendam às demandas sociais.

A lei do incentivo é importante e necessária para que o setor privado tenha condições de estreitar esse diálogo e transformá-lo, efetivamente, em atitude. O impacto positivo e efetivo das iniciativas não beneficiam apenas a sociedade, mas fortalece a colaboração intersetorial: sociedade, setor público e setor privado. Participar desta construção permite que o setor privado tenha condições de entender melhor o contexto na qual ela atua e, assim, influenciar no desenvolvimento de políticas públicas adequadas que, por sua vez, beneficiam a todos. A partir da lei do incentivo para apoio de projetos sociais, a transformação pode ser percebida tanto no curto quanto no longo prazo.

Atualmente, quais são os focos de investimento social da área de Sustentabilidade do Itaú? O que os levou a eleger essas temáticas?

A base para todo investimento social da área de Sustentabilidade do Itaú Unibanco é a tríade ESG (Environmental, Social, Governance). A partir desses fatores, dialogamos com todos os nossos parceiros, internos e externos. Atualmente, temos iniciativas pautas nas agendas de Diversidade e Direitos Humanos, do Futuro do Trabalho e Longevidade, de Mobilidade Urbana e do Esporte. Recentemente, nos comprometemos com o combate ao COVID-19 no Brasil, e a atuar mais profundamente na agenda de desenvolvimento sustentável da Amazônia. A área de Sustentabilidade também está em constante diálogo com a Fundação Itaú para Educação e Cultura, a fim de estreitarmos a apoio aos projetos de Educação, Cultura e Cidadania.

Sabemos que a educação pública no Brasil ainda tem um longo caminho a ser percorrido para que, de fato, eduque e forme pessoas de maneira satisfatória. O tripé poder público, iniciativa privada e organização social pode ser uma alternativa para melhorar a qualidade da educação no país, especialmente nas áreas de maior vulnerabilidade socioeconômica?

A união de esforços entre poder público e os diferentes atores da sociedade civil organizada torna-se cada vez mais necessária para garantir uma educação pública de qualidade. Historicamente, as organizações desempenham um papel extremamente relevante para garantir o desenvolvimento integral das crianças e dos adolescentes.

Promover a cooperação intersetorial de forma a potencializar que ações integradas possam ampliar as possibilidades de aprendizado e de ganhos mútuos. Nesse sentido, o Itaú Social desenvolve o programa Redes de Territórios Educativos, que promove assessoria a organizações da sociedade civil na elaboração e implementação de estratégias de educação integral. As OSCs são estimuladas a atuar de forma articulada, criando redes capazes de ampliar a oferta de ações para aumentar as oportunidades de aprendizagem dos estudantes, em especial daqueles que se encontram em situações de risco social.

Para qualificar as práticas dos profissionais que atuam na perspectiva do desenvolvimento integral de crianças e adolescentes, o Itaú Social criou o Polo, ambiente de formação que reúne uma diversidade de conteúdo. As formações são desenvolvidas em parceria com instituições de referência na área de educação e oferecidas para gestores de educação, coordenadores pedagógicos, professores, educadores, equipes de organizações da sociedade civil (OSCs), de arranjos intermunicipais e demais profissionais que atuam em prol da educação e da garantia dos direitos fundamentais da criança e do adolescente. Cada percurso busca explorar a temática trabalhada por meio de diferentes perspectivas, combinando a teoria e a prática.