É PRECISO DEVOLVER À INFÂNCIA E À JUVENTUDE SEUS DIREITOS FUNDAMENTAIS
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Por Sóstenes Brasileiro de Oliveira, diretor geral da Fundação Gol de Letra
Quando 20 anos atrás os casais Raí e Cristina, Leonardo e Beatriz decidiram agir em favor de famílias de comunidades com poucos recursos, de crianças com baixa perspectiva de realização pessoal e em favor de jovens sem oportunidades, eles não sabiam exatamente o que iriam encontrar. Não sabiam o tamanho da encrenca!
Quando 20 anos atrás eles decidiram que queriam atuar na ponta do problema – ou dos problemas – eles fizeram a opção por um projeto social que é transformador para quem é favorecido, mas é também transformador para quem favorece. E aí está, talvez, sua maior riqueza.
Se 20 anos atrás alguém dissesse que em 2018 a Gol de Letra estaria atendendo 4.600 crianças, adolescentes e jovens, talvez houvesse pânico nesses casais.
No dia a dia, o que nós percebemos é que ter essas pessoas conhecidas e reconhecidas por sua integridade e altruísmo liderando esse projeto, traz um componente interessantíssimo de confiança nos dois lados da equação perfeita: o lado dos que precisam e o lado dos que se dispõem a ajudar.
O UNICEF (Fundo das Nações Unidas para a Infância) lançou em agosto último um trabalho chamado “Pobreza na Infância e na Adolescência[1]”, baseado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 2015.
Os resultados da pesquisa mostram que a pobreza monetária na infância e na adolescência foi reduzida no Brasil na última década, mas as múltiplas privações a que meninas e meninos estão sujeitos não diminuíram em igual proporção.
Ainda assim, no Brasil, mais de 18 milhões de crianças e adolescentes (34,3% do total) vivem em domicílios com renda per capita insuficiente para adquirir uma cesta básica de bens – famílias com menos de R$ 346,00 per capita por mês na zona urbana e R$ 269,00 na zona rural.
Mas a pobreza na infância e na adolescência é ainda maior. Isso porque, para entender a pobreza, é preciso ir além da renda e analisar se meninas e meninos têm seus direitos fundamentais garantidos: Saneamento, Educação, Água, Acesso à Informação, Moradia e Proteção contra Trabalho Infantil.
Quase 27 milhões de crianças e adolescentes (49,7% do total) têm um ou mais direitos negados. Os mais afetados são meninas e meninos negros, vivendo em famílias pobres monetariamente.
O MAPA DA VIOLÊNCIA
Além disso, temos o Mapa da Violência 2016 – Homicídios por armas de fogo no Brasil[2], uma série de estudos publicados desde 1998, inicialmente com apoio da Unesco, do Instituto Ayrton Senna e da Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais (FLACSO Brasil), entre outras entidades, e, mais recentemente, publicados pelo governo brasileiro, sob a responsabilidade do sociólogo Julio Jacobo Waiselfiz.
Diante dos dados que apresenta, a publicação também pode ser vista como o “Mapa da Intolerância”, e dá pistas de onde se processam os principais canais de desigualdade instalados entre nós. O estudo mostra, entre outras coisas, que:
– Nossa taxa de 4,8 homicídios por 100 mil mulheres nos coloca na 5ª posição internacional, entre 83 países do mundo.
– Por outro lado, na comparação com 85 países analisados, o Brasil ocupa o 3º lugar em relação à taxa de homicídios de adolescentes de 15 a 19 anos. Com o índice de 54,9 homicídios para cada 100 mil jovens nessa faixa etária, o país é superado apenas por México e El Salvador.
Os homicídios são hoje a principal causa de morte de jovens de 15 a 29 anos no Brasil, e atingem especialmente jovens negros do sexo masculino, moradores das periferias e áreas metropolitanas dos centros urbanos.
São números fortes, desagradáveis, mas lembrá-los é importante. É importante para destacar a urgência de se trabalhar com o fortalecimento dessas comunidades, as mais atingidas pelos desequilíbrios socioculturais que estão no seio de um país que ainda anda de lado no seu processo civilizatório, de respeito aos direitos humanos.
A Fundação Gol de Letra se propõe não só a fortalecer essas comunidades através de um projeto efetivo com adolescentes, jovens e suas famílias, mas também multiplicar seu aprendizado cotidiano, realizando parcerias que disseminem boas práticas a outras comunidades, para que, assim, nossa proposta de transformação social possa reverberar para mais e mais pessoas.
[1] UNICEF Brasil, Pobreza na Adolescência e na Infância. 2018. Disponível em:
[2] WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2016: Homicídios por armas de fogo no Brasil. 2016. Disponível em:
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